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Penedos de Góis

Preservar os PENEDOS é a palavra a não esquecer

Penedos de Góis

Preservar os PENEDOS é a palavra a não esquecer

O Penedo

19
Abr13

 

 

 

Em data incerta, mas certamente durante a orogenia do ciclo hercínico (com início há cerca de 450 milhões de anos), terá acontecido aqui um fenómeno geológico semelhante a tantos outros que a natureza nos proporciona: uma forte projecção e derrame de aglomerados de rochas metamórficas, vindos do interior da terra, a temperaturas elevadas, transformando os arenitos em quartzitos, a rocha predominante do novo maciço. 
Nascia assim uma elevação, sobrelevando-se às vizinhas, no seguimento de uma linha de alturas que, ligando a Serra da Lousã com a do Açor, divide o concelho em duas zonas bem diferenciadas. 
Com o passar do tempo, por ocorrência de desligamentos, fracturas e enrugamentos, aliada com a resistência à erosão própria do quartzito, o Penedo tomaria o seu aspecto actual, de acentuado contraste de relevo, de crista alongada, imponente e majestoso nos seus 1043 metros de altura, que sobressai da paisagem, avistado das cinco freguesias do concelho.
Composto por vários montes, os pastores foram baptizando-os com denominações simbólicas ou alusivas à sua utilização, que entraram no vocabulário quotidiano: o Penedo da Abelha, o Penedo do Picoto, o Penedo das Portas do Sol, o Penedo do Meio-dia, o Penedo do Reboludo, o Penedo da Foice, o Penedo do Pinheiro, o Penedo da Aigra, o Penedo da Carvalha, o calhau das merendas, as meninas, as fraguitas...
A pastorícia era a principal actividade de subsistência. Grandes rebanhos comunitários, de vários milhares de cabeças, compartilhavam os mesmos pastos e eram geridos pelo mesmo pastor, indicado rotativamente por cada grupo proprietário. 
Quem visite esta região, ainda pode deleitar-se, junto dos poucos residentes, com histórias de lobos, atacando os seus rebanhos, umas com pitadas de heroísmo ou de bravura, outras fantasmagóricas, ou com lendas de mouros que em tempos habitavam nas suas grutas. 
Quatro aldeias da região – Comareira, Aigra Nova, Aigra Velha e Pena – pequenos aglomerados à base do xisto, constituindo como que um percurso histórico, estão sob alçada de um projecto comunitário de desenvolvimento. Mas é pertinente também referir, como aldeias típicas desta região, e aconchegadas ao Penedo, os Povorais e o Vale Torto.
Na parte ocidental, na extrema com o concelho de Castanheira de Pêra, o espaço ao redor da capela de Santo António da Neve é local do “Encontro dos Povos Serranos”, alegre convívio anual entre as gentes das serras. Em tempos remotos, juntavam-se os pastores dos montes e aldeias ao redor, nos seus trajes característicos, constituindo grande romaria, com gentes vindas de zonas muito afastadas. Uma romaria e, agora também feira, que continua a fazer-se anualmente, no segundo sábado do mês de Julho, não faltando a tradição de cada participante levar, para além da merenda, um queijo inteiro, em homenagem ao seu santo padroeiro. 
Outrora, fabricava-se ali gelo, a partir de neve, em poços de que ainda hoje se observam vestígios, vendido depois para diferentes partes do país, nomeadamente para as geladeiras da Corte, em Lisboa. O antigo armazém dos neveiros transformar-se-ia na actual capela, por se ter encontrado num dos poços, um santo, logo baptizado de Santo António da Neve. Curiosamente, por meio da capela, passa a linha de fronteira dos dois concelhos, Góis e Castanheira de Pêra.

JNR 

(Conhecer Góis, 2008)

* *
(...) 
Em sentido perpendicular ao ramo oriental da serra do Açor, seguindo aproximadamente a linha norte - sul, levanta-se a meia distância entre as Pedras do Lumiar e o Trevim, o já referido Penedo de Goes, com uma cota de 1043 metros de altitude, dando começo à serra escarpada e nua que forma um dos lados do vale do Sotam e que depois de ter formado elevações consideráveis, como as de Sacões e Cabril, no concelho de Goes, atravessa o extinto concelho de Poiares até chegar ao Mondego, no termo de Penacova.
Esta serra é constituída por quartzita e representa, no meio das rochas que formam o trama esquelético de todo o sistema orográfico da região, uma modalidade geológica digna de menção, da rocha gneissica que lhe fornece uma grande parte dos elementos constituitivos.
É lícito supor que por extensa fenda aberta na mais antiga rocha do globo – o gneiss – ejaculou o agregado compacto de grãos de quartzo, o qual, combinado com alguns dos elementos dogneiss, sob a acção de uma elevadíssima temperatura, se converteu em quartzita formando a montanha que, além da forma alcantilada e rude, desconhecida nos terrenos em que se enxertou, sobrelevava em altura as elevações vizinhas. O calor e a pressão desenvolvidos pela formação do enorme maciço, imprimiram modificações às zonas contíguas da rocha fundamental e o metamorfismo aqui e o desagregamento acolá produziram efeitos que bem depressa foram presa de outros agentes.
Ao passo que a grande elevação do Penedo de Goes e da serra que se lhe segue ofereciam uma larga superfície à acção dos agentes cósmicos, a sua composição química permitia que o ácido carbónico desagregasse os elementos da rocha fundamental e então as chuvas torrenciais, caindo sobre a montanha, operavam o desmoronamento e arrastavam ao longe os detritos que acumulavam em possantes aterros.
Daqui o abaixamento sucessivo da alta cumiada, o rolamento de blocos de diferentes grandezas que, durante a intensa e prolongada revolução da natureza, com frequência se desprendiam do morro desnudado e a formação de depósitos que em breve tomavam o aspecto e o tamanho de verdadeiras montanhas, ao mesmo tempo que as águas que eram o veículo dos elementos das novas formações se reuniam em leito, cuja direcção era determinada pela maior ou menor coesão entre os antigos e novos terrenos. Por esta forma, as águas torrenciais caídas sobre o Penedo de Goes e serra de que fazia parte, arrastaram os detritos que, em aluviões e à mistura com blocos de quartzo, uns rolados outros angulosos, foram formar a serra do Carvalhal; logo, porém, que aquelas elevações diminuíram de altura e esta foi subindo até opor às águas um verdadeiro dique, estas derivaram entre a serra de onde dimanavam e o dique que formaram, delineando o vale do Sotam, de século em século mais cavado e fundo, como agora se vê.
A base do grande aterro de aluvião que dizemos chamar-se serra do Carvalhal foi até à bacia do Ceira, em cuja margem esquerda, desde Goes até à Várzea, se encontram hoje numerosos blocos de quartzo, uns a descoberto pela acção das águas ou do homem e outros envolvidos no aterro da nova formação que lhe serve de ganga e que demonstra uma origem comum. Mas enquanto aqui o quartzo desagregado da rocha mãe se apresenta lascado ou rolado, em blocos de maior ou menor tamanho, em outros pontos adjacentes à serra que lhe deu origem, reveste a forma de areia em grãos finos, constituindo abundantes depósitos. É o que se encontra na ladeira da Arraçaio, na freguesia da Várzea.
Mais longe, no extremo desta freguesia e já no termo do extinto concelho de Poiares, os detritos arenosos do quartzo, certamente por terem sido postos em contacto com a sílica, por via da água de infiltração, sofreram uma forte consolidação e formaram um extenso banco de grés que hoje é explorado como pedra de cantaria.
É a constituição geológica da serra de Alveite. Adiante ainda a matéria aglutinante dos grãos de grés, em vez da sílica, foi a cal e então o grés formou uma variedade de calcário.
Esta espécie constitui a serra de Mucela e é explorado tanto como cantaria, como para a calcificação. Uma e outra variedade de grés apresenta-se umas vezes branco, outras, mosqueado de diferentes cores, por efeito da presença de óxidos de ferro ou de cobre e com mais frequência dos primeiros.
Além das montanhas descritas, apenas poderá notar-se ainda a serra do Carpido ou Salgueiral que separa a freguesia da Várzea da de Pombeiro, no concelho de Arganil, e que é constituída por terreno de aluvião e provavelmente de origem análoga à do Carvalhal.

J. Afonso Baeta Neves
(Notícia Histórica e Topográfica da Vila de Goes e seu Termo, 1897, pp. 70-72)



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