Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008

IX --- SETE DIAS À TOA NA SERRA DA LOUSÃ


Por Ernesto Ladeira
(Continuação do número anterior)

 

 

 

 

A propósito do caso da "casa assombrada" da Boiça, ainda fresco, alguém alvitrou que se pedisse uma audiência ao Senhor Prior de Alvares, porque de almas deste e do outro mundo percebia ele, com certeza.

E assim se cumpriu. Dois dos nossos encheram-se de coragem e vai de bater á porta do velho Pastor.

Atendeu-nos o próprio, de forma muito cordial e reverente. Após uma breve enunciação dos propósitos que nos traziam alí, mandou-nos sentar junto a uma avantajada e velha mesa de castanho, posicionada no centro de um antigo e esconso salão, com enormes janelas de guilhotina que davam para uma ruela medieval.

Aclarado um pouco mais o assunto ao que vínhamos, o bom do Prior, depois de ter dito que, efectivamente, estava a par do que se estava a passar na Boiça, sem mais delongas, e de uma assentada só, arrumou-nos com esta: - Sabem, meus meninos, o desconhecido é incomensuravelmente mais extenso e denso do que o conhecido e, mesmo este é, aparente, ingénuo. Só Deus, na sua infinita sabedoria, poderia saber o que se estará a passar na Boiça, se é que alguma coisa se está a passar. O verdadeiro mundo não é este, em que estamos de passagem; o nosso passamento nos provará que assim é.

Ao colocarmos - lhe a questão do recurso ao estratagema da "casa assombrada", para se conseguirem títulos de propriedade por tuta e meia, o bondoso do Prior admitiu que, infelizmente, a ganância e a maldade de uns e a inocência e a ignorância de outros, podiam, efectivamente, conduzir a lamentáveis situações dessas.

Notava-se, da parte do Padre, uma certa estranheza por este nosso súbito desejo de "remexer no além" ( melhor dizendo no "aquém"), tanto mais por se tratar de jovens ainda na flor da idade.

Ainda lhe falamos também do inesperado aparecimento do cãozito branco, dramaticamente pré- anunciado, quando um grupo de rapazes seguia, alta noite, para a Festa do Camelo. Um cão real. Todos o viram! Mas o que é real e não real, se o próprio real corrente, o do dia a dia, é afinal virtual, porque é captado pelos olhos e processado pelas "câmaras de vídeo" das nossas mentes? E nos nossos sonhos, sobre que "real" trabalham as nossas "câmaras de vídeo" mentais?

Levantando-se da mesa, o nosso muito especial anfitrião, apenas comentou – Complicado; estranhas coincidências ou auto- sugestões colectivas.

Com uma garrafa de velho Porto e um pacote de bolachas, retirados, cuidadosamente, de uma velha cristaleira, digna de montra de antiquário, selámos a adorável conversa com o não menos adorável Pastor das almas solitárias de Alvares.

Íamos no quinto dia do "bem - bom " e da "boa - vai - ela". Sem teias de aranha nem fungos na alma, sem chumbo nem lastros no peito. Sem amarras, sem regras absurdas, sem coordenadas finitas, sem tempo. Sem maus pensamentos, sem angústias. Livres! Ciganos românticos. Só nós, quase desnudos. Só nós, quase em absoluto só nós. Só nós e apenas uma secreta ligação com a Natureza, a nossa mãe adoptiva de todos os dias e de todas as horas. Só nós e o sonho!

O Barbeiro do Camelo. Finório, bonacheirão, sempre a debitar bom humor. Onde ele chegava, ninguém mais falava. Encontrámo-lo na taberna dos Aleixos (os nossos benfeitores ), a escanhoar um parceiro, com pele de tartaruga e barba de semanas, sentado num mocho e de "babete" ensebado ao peito. Da maleta ao lado tirava e repunha ferramental e drogas, usadas em tais circunstâncias, ao mesmo tempo que falava pelos cotovelos. Quando nos viu, riu-se à gargalhada e gritou – Oh, Jorge! Oh, Arnesto!, então vocês agora andam nisso? Que vergonha! Ai o Ladeiras do Coentral, quando souber! O barbeiro do Camelo já sabia da nossa história. De Alvares ia passar nos Obrais e em Mega. Pedimos- lhe para dizer lá na casa da Portinha que o bando passaria em Mega no dia seguinte. Almoço para seis. O barbeiro do Camelo era, sem dúvida, a pessoa mais famosa naquela zona. Bem falante, bem parecido (de pele fina e rosada, como seria de esperar de um mestre barbeiro) exercia a sua profissão ao domicílio, calcurreando barrocas e cambais, recebendo por cada acto ou por avença, com pagamento em dinheiro ou em espécie. Exímio contador de histórias e anedotas e, acima de tudo, um verdadeiro "jornal com pernas", responsável pela rápida migração de notícias na região. Além de barbeiro e mensageiro, através da palavra falada, era, no Camelo, onde vivia, agricultor, apicultor e "industrial" de rêdes de pesca artesanais, muito procuradas por pescadores furtivos de trutas com o "guardanapo". Adeus Manel Barbeiro, até sempre!

Sétimo e último dia de um longo e reconfortante sonho, quase real. Eslavaçados até à exaustão, nas águas puras e santas da Ribeira de Amioso, e na doçura e bondade das pessoas, com as roupinhas e chanatos nos limites, dissemos adeus à Chã de Alvares, com muita saudade e muito gratos por tantos mimos e atenções que nos foram concedidos, durante quase cinco dias. Sentíamos que mais tijolos, agora de platina, iam entrando, de mansinho, nos alicerces da nossa "consciência adulta" em construção.

Sãos, escorreitos e magriços, lá partimos para Mega, cada vez mais amigos e solidários.

Alcançada a margem direita da ribeira, pela vetusta ponte de arco único, a sul da nossa saudosa represa, metemos a festo, matagal acima, por entre oliveiras em socalcos, medronheiros e vitoiros arbóreos. Alguém, a certa altura, gritou, dizendo ter visto uma grande cobra que se esgueirava por entre calhaus e arbustos. Inspeccionada a zona, nada. Pela primeira vez nos aflorou à pele o medo atávico pelos ofídios. E contaram-se, então, histórias impressionantes destes seres tão estranhos, que tanta repulsa causavam ás pessoas: Aquele menino distraído que seguia descalço pelo borralhiço da azinhaga e sentiu cócegas estranhas nas pernas; ao olhar para trás, viu uma cobra, a três palmos, seguindo tranquilamente o seu caminho, em sentido inverso. Aquele moço de Lisboa que apanhava cobras em Monsanto, trazia-as na fralda da camisa e vinha brincar com elas para a praceta, apavorando os circunstantes. Depois de uns tempos em casa com elas, devolvia-as ao seu ansiado habitat. Um dia, trouxe uma muito bonita (com uma faixa grená da cabeça ao rabo), de um acampamento na Serra da Estrela. Acomodou-a no seu quarto e alimentou-a o melhor que pôde. Só que, no dia seguinte, verificou, com satisfação e também preocupação, que a bicha tinha entrado em partos contínuos. Já ia na sexta ou sétima cobrinha-bebé. A mãe do moço entrou em desespero quando, a certa altura, abriu a porta do quarto e viu a cobra –mãe no chão enroscada no tapete. O moço repôs a ordem, mas o pai, perante o pavor da mulher, pegou, à sucapa, na "maternidade" improvisada e foi despejá-la a Monsanto. Aquele pescador que, ao escalar um açude, pôs uma mão em coisa mole. Não era o que pensava. Pior ainda. Uma cobra enroscada a banhos de sol. Pegou-lhe pelo rabo, duas voltas, e atirou com ela para o milho. O mesmo que habitualmente fazia às cobras d’ água (calhandras) quando as apanhava nos buracos onde deviam estar trutas, eirós ou bordalos e não cobras d’ água. Aqueles catraios que tanta pedrada amandaram a uma cobra, que ela subiu até ao limite da ramada de uma carvalha. A pressão das calhoadas, continuou a ser tanta, que a pobre bicha se viu forçada a executar um voo espectacular de geometria variável, caindo no meio do mato. Cobras que se enroscavam, artisticamente na vertical, a fazer amor ou a lutar, que engoliam enormes sapos, que "encantavam" passarinhos indefesos e, depois, os tragavam.

Em histórias de cobra, estas são quase sempre as grandes vítimas.

Dizem os especialistas que é uma espécie em vias de extinção. Qualquer dia, cobras só no Zoo.

 

do  jornal O Castanheirense

(continua no próximo número)

publicado por penedo às 10:29

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Quarta-feira, 26 de Novembro de 2008

CAMINHADA: “Ascensão aos Penedos de Góis”

20 de Dezembro (sábado)

Os Penedos de Góis são uma serra escarpada, em plena Serra da Lousã, que formou desníveis únicos, com quedas de água e ribeiras impetuosas. Um local deslumbrante com miradouros sobre a paisagem beirã. Trata-se portanto de um caminhada de ascensão, por encostas inóspitas e de declives acentuados, ao ponto mais alto do concelho de Góis (1048m), pelo que se exige alguma resistência por parte dos participantes.

Local de encontro: Esporão (Góis), junto às bombas de gasolina, às 9h30.
Duração: cerca de 4/5h.
Preço: 10€/pax Inclui guias e seguro.



Aos preços indicados acresce o IVA à taxa em vigor.
Para inscrição é necessário indicar um telemóvel de contacto e é obrigatório o envio prévio do nome completo dos participantes, para efeitos de seguro.

Para inscrições e informações:
Bairro de S. Paulo, 13, 3330-304 GÓIS
tel / fax 235 778 938
telem 966 217 787
mail geral@transserrano.com

ALVARÁ nº24/2003 (DGT) ALVARÁ nº 231/2005 (IPJ)
 
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Aldeias do Xisto

de
   João de Castro Nunes

Vezes sem conta, em Góis, eu percorri
suas aldeias típicas de xisto;
não sei já quantas vezes por ali
andei sem pretender gabar-me disto.

Podia enumerá-las uma a uma,
desde Aigra Velha e Nova à Comareira,
mas eu prefiro não citar nenhuma
a fim de não pôr lenha na fogueira.

Por elas passa, julgo, em grande parte,
o futuro turístico de Góis,
que entre a montanha e a vila se reparte.

Falo por mim, que numa viva roda,
por ventos, chuvas, esquentados sóis,
trilhei aquela zona… hoje na moda
!

in

movimento cidadãos de gois

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À Volta dos Penedos ---Festa do Regionalismo

Regionalismo goiense em grande jornada cultural

 
Grande jornada de fervor regionalista ocorreu no último dia 15, na Casa do Concelho de Góis, promovida pelo Conselho Regional, organizada pela aniversariante Sociedade de Melhoramentos da Roda Cimeira e apoiada pela Junta de Freguesia de Alvares, numa manifestação de entusiástico elan regionalista que soube ocupar e desempenhar bem o papel para que tinha sido convidada e que, por direito próprio lhe cabia.
Tudo era genuinamente beirão, começando pelas pessoas dentro do seu tagarelar e, sem nos darmos conta, dava-se uma desgarrada que resultava dum encontro inesperado misturado com o cheiro da chanfana com o apelativo aspecto do aferventado, ou com o brilho das filhós. Tudo presenteado pela colectividade que não se poupou a esforços para festejar condignamente os seus 80 anos de existência. A longa tarde avançava muito preenchida com momentos inesquecíveis, associados à prova dos sabores regionais, à degustação dos mesmos, ao requinte da sua exposição que traziam à memória os aromas da flor da urze, da flor da acácia e os sons dos silvos do vento. Numa palavra pode dizer-se que a nossa região esteve condignamente representada com a colaboração da Junta de Freguesia de Alvares no transporte das pessoas.
As forças vivas da região estiveram representadas por José de Carvalho da Assembleia Municipal e Helena Moniz da parte da Câmara Municipal; Dr. Vítor Duarte e Quim Mateus por parte da Junta de Freguesia de Alvares; Dr.ª Lurdes Castanheira da parte da ADIBER; pela Sociedade de M. de Roda Cimeira os Sr.s João Baeta e Jaime Carmo, pela Casa José Dias Santos e pelo Conselho Regional Dr. Luís Filipe que presidiu à mesa de honra.
Destas individualidades realçamos os seguintes apontamentos: o regozijo do Dr. Luís Martins e de José Dias Santos em terem a Casa cheia de gente que levou ao êxito deste evento; as palavras de satisfação do Dr, Vítor Duarte pelo momento de exaltação que se vivia e de Quim Mateus ao referir que nas colectividades são as pessoas que contam e só assim faz sentido; a lembrança de João Baeta dirigiu-se para a memória dos fundadores desta colectividade, para os quais pediu um minuto de silêncio e lembrou aos autarcas que aceitem as colectividades como parceiros sociais; Jaime do Carmo deu-se por satisfeito pelo êxito alcançado; Helena Moniz realçou a festa das Freguesias do Concelho; José de Carvalho valorizou o contributo das colectividades e o seu direito ao lugar de parceiros sociais; por último a Dr.ª Lurdes Castanheira relembrou a importância das colectividades, manifestou a sua simpatia por Roda Cimeira e deixou a boa nova do programa PRODEC. Todas estas intenções deixam adivinhar o advento de um novo ciclo de relações com as colectividades.
Houve também tempo e espaço para a poesia, tratada e analisada pelo Eng.º João Coelho que se deteve um pouco sobre a obra de Adriano Pacheco, deixando campo para que fossem lidos dez poemas inéditos, nas vozes de Marina Lopes, Filipa Victor, Ana Rita e do próprio autor que intervalaram e trouxeram alguma suavidade aos ouvidos dos presentes.
Mas este tipo de eventos, a música ocupa sempre o lugar de destaque ao alterar todo o ar formal e sisudo da plateia, a arrumação e a postura das coisas e das pessoas a partir do qual a agitação toma conta delas. Ninguém consegue ficar indiferente aos sons vibrantes e harmoniosos da concertina do Marcelo e seu grupo. A música e a sua presença em palco é algo que mexe com as pessoas e cativa a aderência do mais sorumbático cidadão. Para quem já esgravatou neste instrumento e conhece minimamente a sua técnica, não pode deixar de admirar a destreza dos executantes e a harmonia dos sons conseguidos.
Em traços muito largos foi assim que decorreram parte das festividades do regionalismo goiense e se homenageou o octogésimo aniversário da Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira que os ventos falarão dele. Pelo que o Conselho Regional regozija-se com as celebrações em curso e aguarda com expectativa outros desenvolvimentos que se perfilam no horizonte.
in Jornal de Arganil, de 20/11/2008
publicado por penedo às 18:13

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Segunda-feira, 24 de Novembro de 2008

Penedos de Góis

Fotografia de Luís Ferreira

publicado por penedo às 10:38

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À Volta dos Penedos---Povorais-Carvalha

     1                                               Obras na Carvalha

 

 

 

 

 

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http://povorias.hi5.com

 

 

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Quinta-feira, 20 de Novembro de 2008

À Volta dos Penedos ---Cabreira na TV

                          Dos Penedos  também se avista a Cabreira
 
Na próxima 2ª feira, dia 24 de Novembro, o programa da RTP1 - Praça da Alegria, irá estar em directo no Lagar da Cabreira (Góis) para mostrar aos telespectadores o programa da Rota do Azeite, que é, há vários anos, dinamizado pela Trans Serrano.

Em simultâneo, a partir dos estúdios do Porto, também se fará a representação da Oficina da Broa e do Queijo de Cabra, que será assegurado pela associação Lousitânea - Liga de Amigos da Serra da Lousã.

O programa terá início às 10h-11h. Não perca o na TV ou então, se puder, apareça na Cabreira!
publicado por penedo às 19:39

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Uma visitante no caminho dos Penedos

 

“Estava bastante frio..nos penedos de gois...mas valeu apena o passeio...

 

 

in:

 

”http://povorias.hi5.com

 

 

                      Obrigado pela sua visita até á próxima cá a esperarei

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publicado por penedo às 18:50

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Apontamentos---O culto a Ilurbeda



Dr. João de Castro Nunes, apaixonado pela arqueologia da nossa região, investigou e estudou alguns monumentos e materiais que, em meados do século passado, foram “descobertos” e dados publicamente a conhecer.
E, ao relacionar os petróglifos, que viria a denominar por “Pedra Letreira” e de “Pedra Riscada”, com aras encontradas nas suas cercanias, salienta a hipótese de o espaço ao redor da Serra do Penedo se tratar de um santuário de crenças primitivas, talvez de culto a uma divindade local, de nome
Ilurbeda.
De monografias que então publicou, e que são referidas mais adiante, retiramos as seguintes passagens:

“…
Qual balcão desafrontado e sobranceiro às vertentes escalvadas e às barrocas fundas dos contrafortes da Lousã, é medonho e ao mesmo tempo aliciante o cenário que da Pedra Letreira se desfruta. Visto de ali, um pôr de sol a dessangrar-se por entre os dentes eriçados da crista silúrica da Serra do Penedo é simplesmente inolvidável…

(…) No panorama circundante, não constitui a Pedra Letreira um documento que digamos único da presença do homem por aquelas paragens em tempos mais ou menos recuados.
Em frente, na linha do poente, lá estão as
minas romanas da Escádia, em cujos nichos dos hastiais, abertos a 1,20 m se encontravam, quando há anos se procedeu ao desentulhamento das respectivas galerias, algumas lucernas (…). Mais adiante, na mesma direcção, mas já dobrada a encosta, há o lugar dos Povorais, com as suas minas antigas de que procedem dois picões de ferro, de época romana (…). Cara ao norte, no Alto das Cabeçadas, temos os poços romanos, de exploração mineira, conhecidos pelas Covas dos Ladrões, de um dos quais saíram, não há muito, duas pequenas aras consagradas à divindade indígena “Ilurbeda” (…) E mais para além, vencida a serra da Folgosa e ultrapassado o Rabadão, não podemos deixar de referir as minas pré-históricas da Eira dos Mouros, na Encosta da Devouga, ao Liboreiro, com materiais de feição eneolítica e demais períodos do Bronze.
Estes e outros vestígios do passado, ainda mal conhecidos, são indícios para já suficientemente reveladores de uma longa e activa permanência humana por aquelas redondezas, motivada ao que parece pela sua relativa abundância de minérios, o ouro e o estanho sobretudos. São como anéis desarticulados e dispersos de imaginária cadeia forjada, na bigorna dos séculos, por gerações atrás de gerações. Pobres restos materiais, aparentemente sem valor, que encerram no entanto a alma e a mentalidade dos povos que ali se sucederam e os deixaram, é através deles que teremos de refazer e articular de novo os elos da cadeia, se quisermos vir a ter um pálido vislumbre da sua trajectória pela penumbra dos milénios.

(…) A magia, que brota da “Pedra Letreira” volta aqui
[na “Pedra Riscada”], a dominar-nos, avassaladora e irresistível. Parece obra de encantamento. Apalpa-se a presença do sobrenatural. Há longes de infinito na cumeada das montanhas. Foge-nos a alma para o céu. O poder divino manifesta-se. Lugares malditos, chama-lhes o povo. Evita os seus silêncios. Aterra-o a solidão do ermo. Cria o mito das mouras encantadas. É que, por instinto, ele tem a percepção de ali estarem as relíquias de deuses ancestrais, de cultos esquecidos e quem sabe se a cinza dos seus mortos. Tem o respeito instintivo do sobrenatural, o respeito do sagrado, que tem fronteiras com o medo.
Quando os romanos, na pista do ouro, vieram dar a estas serras, devem ter sofrido a efeito do mesmo sortilégio. O espectáculo grandioso da paisagem, dinamizado pela crista da Serra do Penedo, qual dorso de gigantesco dinossauro a esventrar o céu, cujo céu, ao mesmo tempo aliciante e alucinante, havia de moralmente os predispor para a aceitação do poderoso Génio local, a cuja vontade deveriam obedecer as forças ocultas da própria natureza física. Senhor dos montes e das fontes, das trevas e da luz, das nuvens e dos ventos, da superfície exterior e das entranhas, da vegetação e dos rochedos, eram seus também o ouro e o estanho dos filões.

(…) Há hispanos que, fascinados pelo fulgor da civilização romana, passam a sacrificar nas suas aras, como se renegassem dos seus deuses. Outros há que, mesmo revestidos dos atributos da nova cidadania, continuam presos aos novos cultos e, alatinando o nome dos seus ídolos, o mandam gravar na legenda piedosa dos ex-votos, guardando intactas no coração as suas crenças ancestrais (…) Vem isto a propósito de, há tempos, terem sido achadas em trabalhos de desobstrução de antigos poços de exploração mineira, no alto das Cabeçadas, às Covas dos Ladrões, duas pequenas aras, do tempo dos romanos, dedicadas a uma divindade indígena:
Iburbeda.

(…) Tem “ressonância ibérica” o nome
Ilurbeda. Abona-se o mesmo radical em topónimos e hierónimos das terras levantinas, a clássica Ibéria. São fósseis venerandos de tempos idos, de velhos idiomas, ainda não cruzados de indo-europeísmo, falas porventura tão remotas como as gravuras dos petróglidos, atribuíveis na generalidade ao decurso de tempo que nos fins do Neolítico se estende aos fins do Bronze, como as antas do caminho.
É nome de cariz hispano-mediterânico. Ainda o seu radical nos signos silábicos das inscrições ibero-tartéssicas, legíveis mas não decifráveis. Com o Bronze Atlântico e, mais tarde, com o Ferro, vieram os povos da Europa Central e da Itália e, aqui, no reduto das montanhas, vestido à latina, o nome resistiu…

(…) No cenário majestoso que tem por centro de gravitação a altaneira Serra do Penedo havia, pois, um culto antiquíssimo. A “Pedra Letreira” dos Amieiros e a “Pedra Riscada” da Mestras são, juntamente com as aras romanas das Covas dos Ladrões, nas Cabeçadas, documentos abonatórios da sua vitalidade através de muitos séculos. Que os dedicantes destas aras fossem romanos de gema, o que não é provável, a avaliar pelo onomástico e respectiva ortografia, ou naturais romanizados, isto é, hispano-romanos, vem a dar o mesmo. O que importa é que elas atestam, já no Outono do Império, a longa perduração desse culto e o nome da respectiva divindade.
Não conhecemos, em ponto algum do território hispânico, qualquer outro testemunho de tal hierónimo. Tratar-se-á de um culto exclusivamente local? Relíquia filológica do património cultural das populações de fala ibérica, ou anterior a elas, o certo é que, se outros centros houve do culto a esta divindade no resto da Península, carecemos das respectivas provas. Não se conhecem mais vestígios. Só este subsiste.
O que não sabemos, nem saberemos nunca pela certa, é o que nas garatujas ideográficas da “Pedra Riscada” e monumentos congéneres, qual ensaio incipiente de incipiente escrita, quiseram os pretensos devotos de
Ilurbeda expressar para além de uma instintiva atitude de sujeição ao seu poder sobrenatural.
Calemo-nos pois. Não profanemos com palavras vãs a paz do ermo que envolve o santuário. Todo o mistério tem o seu encanto, a sua poesia, que é uma das formas da verdade…
(…)”

Nota (em Agosto de 2008):

Sobre esta divindade, o Doutor João de Castro Nunes deu-nos a seguinte informação complementar, que, com a sua autorização, damos a conhecer publicamente:

«…vou directo ao assunto da sua prezada carta respeitante ao nome da divindade atestada pelas duas aras do concelho de Góis, a tal Ilurbeda que anda nas bocas do mundo, como se constata pela abundante informação electrónica. Vou procurar não me alongar demasiado.
Após a publicação, por mim e pelo Engº. Dr. Veiga Ferreira, das ditas aras, ambas procedentes de um poço das Covas dos Ladrões, nas Cabeçadas, ainda não totalmente explorado, o respectivo teónimo foi integrado na dissertação de licenciatura do Doutor José d’ Encarnação sob o título de “Divindades indígenas sob o domínio romano em Portugal (Subsídios para o seu estudo)”, limitando-se o autor a confirmar as nossas considerações, tanto de ordem linguística como arqueológica. A obra, publicada em 1975 pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, encontra-se absolutamente esgotada. Com os empréstimos, fiquei também sem o meu exemplar.
Entretanto era divulgado pelo “Archivo Español de Arqueologia”, em 1971, o aparecimento de uma nova ara dedicada à mesma divindade em Segoyuela, Salamanca, sem que chegasse ao conhecimento do Dr. Encarnação que obviamente a não refere na entrada dedicada, no seu repertório, à divindade em questão.
Posteriormente, no III Colóquio sobre as Línguas e Culturas Paleohispânicas por mim organizado em 1980 na Universidade de Lisboa sob os auspícios da Universidade de Salamanca, que publicou as respectivas Actas em 1985, o Prof. Jurgen Untermann, da Universidade de Colónia, apresentou uma extensa comunicação intitulada “Los teónimos de la región lusitano-gallega como fuente de las lenguas indígenas” em que se ocupa do nome de Ilurbeda e afins, ou seja, de radical idêntico, que de modo algum mereceu a minha concordância. O ilustre linguista, um dos mais reputados indo-europeístas europeus, chegou a pôr em dúvida a leitura Ilurbeda, desdobrando-a em I(unoni) ou I(ovi) Lurbedae, ao sabor das suas conveniências… Um autêntico disparate. De qualquer forma, relacionando-a com a divindade Ilurberrixo, atestada na Aquitânia, equaciona o problema de uma hipotética, mas improvável, relação desta com as de Góis e Salamanca. A distância é um empecilho.
Agora aparece uma nova referência na região de Burgos, alargando consideravelmente a zona de expansão do culto à nossa divindade. Pela fotografia que me foi dado ver, não distingo se se trata de uma ara ou simples lápide, o que para o caso carece de importância.
O principal problema que este teónimo suscita é de natureza linguística, o que para já é absolutamente insolúvel. Em linguística histórica não se pode ir às apalpadelas, atrás de conjecturas em parecenças que podem ser meramente ilusórias. Trata-se de uma ciência de grande rigorismo e que exige uma preparação muito especializada. Em dada altura, facilitando, cheguei a considerar estarmos em presença de uma divindade do mundo especificamente ibérico, no sentido tradicional do termo. Hoje não defenderia de ânimo leve tal congeminação. Conhecendo hoje, como conheço, o panorama étnico e linguístico do território hispânico, uma autêntica manta de retalhos, de povos, línguas e culturas, não me atrevo a propor qualquer identificação terminológica. Ibérico? Céltico? Celtibérico? Vetónico? Foi por isso que, no referido III Colóquio, propus para os povos, línguas e culturas anteriores à romanização o termo
“paleohispânico”, que teve larga aceitação e hoje goza de preferência nas investigações e publicações em curso. Perante a indefinição reinante, é o que a prudência recomenda. Até novas clarificações.
Nestas condições, o teónimo Ilurbeda, que tão bem soa, pertence ao panteão das divindades que, antes da romanização, foram objecto do culto de povos indígenas de imprecisa identificação e que, já sob a dominação romana, continuaram em muitos casos, como aconteceu no concelho de Góis, a merecer a atenção das populações locais e até, por sincretismo, dos próprios agentes da romanização. Mais do que isto não se pode dizer, sob o risco de navegarmos num mar de fantasias. Deixemos isso para os poetas!
No correio de amanhã vou-lhe mandar uma fotocópia do artigo do Prof. Untermann, que presentemente está a preparar a actualização do vol. II do “Corpus Inscriptionum Latinarum”, referente ao território hispânico sob os auspícios da Academia das Ciências de Berlim, o que só por si é claro apanágio do seu prestígio científico. Foi o arguente da tese de doutoramento de um antigo aluno meu da Universidade de Lisboa, onde agora exerce a docência com altíssimo nível nos domínios conjuntos da Arqueologia e da Paleolinguística. Revejo-me nele!»

João de Castro Nunes, agora na posição de poeta, teve também a amabilidade de compor a seguinte poesia, especialmente para este Portal:

Ilurbeda

Il est des lieux où souffle l’esprit”
Maurice Barrès


Andam deuses pagãos pelas vertentes
voltadas para a crista do Penedo
em cujo panorâmico fraguedo
há do seu génio provas evidentes.

A par do nome hispânico-latino
inscrito em duas árulas romanas
muitas gravuras há pré-lusitanas
sopradas pelo espírito divino.

Difícil é saber interpretar
o que as populações nos transmitiram
nos riscos que deixaram lá ficar.

Sem pretender qualquer decifração,
limito-me a dizer que elas sentiram
andarem deuses… por aquele chão!

João de Castro Nunes

in:

http://cultura.portaldomovimento.com

publicado por penedo às 11:55

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VIII---SETE DIAS À TOA NA SERRA DA LOUSÃ


Por Ernesto Ladeira
(Continuação do número anterior)

 

Os próximos três dias foram de um regabofe, sem tréguas, passados entre a Chã e Alvares. Na Chã dormíamos e tomávamos o café. Em Alvares almoçávamos e jantávamos, graças à extrema amabilidade da Família Aleixo. Aqui desenvolvíamos, até ás tantas da noite, as nossas "actividades sociais e lúdicas". A represa e a barquinha quadrada, nela ancorada, não tiveram descanso. Intermináveis navegações, tumultuosas e com sucessivos naufrágios, à roda de nós mesmos. Foi chafurdar até dizer basta. Uma bela oportunidade também para lavar os trapos que trazíamos no corpo, desde que saíramos de casa.

Alvares era um velhíssimo cortiço, assente numa laje na margem esquerda da formosa Ribeira de Amioso, e cercado de morros forrados de pinhal, por todos os lados. Só se avistava quando se lá chegava mesmo. Naquele tempo o alcatrão (EN2), vindo de Góis, terminava em Alvares. Gerações sucessivas reivindicaram, sem resultados, a continuidade da EN2 (Faro- Chaves) de modo a abrir canais de acesso para sul e poente (Figueiró, Pedrógão e Castanheira). Só assim, Alvares, poderia sair daquele terrível isolamento encovado, daquele buraco profundo em que nascera e dormitava há muitos séculos.

Um sítio propenso às abordagens ao sobrenatural. Noites ultra-silenciosas, luz artificial diminuta, ausência de horizontes e uma reduzida "tampa" do céu. Uma solidão afundada, na noite escura, a fazer emergir estados psíquicos propensos a sustos e medos absurdos. Uma vontade mórbida de trazer à conversa o sobrenatural.

Aquele caso, ultimamente muito falado, da casa assombrada na Boiça. Vozes roucas, aflitas, do além. Ais angustiados de assustar a própria noitibó. Caprídeos cornudos e cabeludos, talvez faunos, em correrias pelos sobrados, durante a noite, apavorando os residentes e vizinhos. Segundo consta, chegaram mesmo a espalhar farinha no chão para confirmar a presença das satânicas criaturas e identificar a configuração e o tamanho das suas patorras. Alma penada, errante? O diabo feito chibo? A gente da Boiça afirmava, a pés juntos, que se tratava de uma alma penada, a atentar a família, por razões de partilhas injustas. Fazia-se acompanhar de outros errantes, para tornar a operação mais eficaz. Um outro caso, o do "cão branco", de que foram testemunhas dois elementos do bando. Altas horas de uma noite feita breu, seguíamos a pé em formação monobloco, por estreito carreiro, entre pinhal novo, já espigado, mas ainda não desbastado, onde a única luz que nos guiava era apenas a de uma nesga de céu estrelado por cima das nossas cabeças azougadas. O nosso destino era o bailarico do dia da Festa do Camelo, com direito a farto pequeno almoço (mesa da Festa ainda posta), depois de "ógar" novidades e alfobres antes do nascer do Sol.

E lá íamos pelo carreiro, falando disto e daquilo, das moçoilas do Camelo, sadias como toras e, claro, também do que era habitual em tais apertos nocturnos. Almas do outro mundo, aparecimentos insólitos, bruxas, lobisomens. Tudo do foro sobrenatural, já que, ao que era natural, com aquela idade, não ligávamos peva. Fossem lobos, ladrões ou malfeitores.

A certa altura, inexplicavelmente, um de nós, exclamou – E se aparecesse agora aqui um "cão branco"! E não é que, de imediato, um cão "lúlú", cor de neve, atravessou lesto o carreiro, à nossa frente, descendo em direcção à Boiça – Foz. Esta agora! Coelho não era. O andar era de cão e não há coelhos bravos branquinhos. Por aqui só há rafeiros e, a esta hora, dormem enroscados às portadas dos currais das cabradas. Todos tinham visto, todos tinham sentido calafrios na espinha – Sugestão colectiva ? Não podia ser. Agora, mais acelerados, lá fomos seguindo para o Camelo. Pelos anos fora, sempre que nos encontrávamos o Jorge exclamava com espanto: E aquele cãozito branco, da outra vez, quando íamos para o Camelo! ( Não sabemos se o Jorge já estará a esta altura mais esclarecido; quanto a nós, continuamos estupefactos ).

(continua no próximo número)

 

do  jornal O Castanheirense

 

publicado por penedo às 11:50

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Terça-feira, 18 de Novembro de 2008

...

            

 

                                               Oitava    sinalização nova, finalmente

 

 

                                    

 

 

 

O Penedo daqui de cima assistiu à colocação das placas indicativas,

 

na Portela do Casal Novo e  a esta no entroncamento de estradas,  (dos  Povorais

 

S. António da Neve e Penedos) local denominado de  Aguchos e 

 

gostou ,   mas....... agora  falta ainda a colocação de informação no placard

 

existente a alguns anos, para quem me quiser visitar

 

 

 

comforme foto em baixo

 

                                       

 

publicado por penedo às 21:14

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À Volta dos Penedos---Povorais

Comissão de Melhoramentos de PovoraisComissão  de Melhoramentos de Povorais

                           
Estimados conterrâneos e amigos 

É com imenso gosto e estima que a Comissão de Melhoramentos dos Povorais, vem por este meio, como tem sido nosso timbre, promover nova iniciativa de confraternização entre todos os nossos amigos.

Neste sentido, informamos que no próximo dia 30 de Novembro de 2008 pelas 16 horas vamos efectuar um belo “Magusto”, na residência do nosso associado Fernando Barata  na:

Rua da Figueira, Lote 88

Casal do Bispo

1675 – 852 Famões.

 

Teremos castanha da nossa terra

e não faltará a gostosa Água-pé.

 

Contamos consigo e com os vossos amigos para um belo convivio.

 

 

Sem mais de momento, subscrevemo-nos com saudações regionalistas,

 

     

A Direcção

 

                                                                           Rui Alves

 

 (comunicado enviados aos sócios e amigos)

 

publicado por penedo às 15:47

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Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008

A VILA DE GÓIS

Ao percorrer a terra portuguesa,
Num sonho deslumbrante... cor-de-rosa,
Vi tanta coisa bela e preciosa
Que me deixou extática e surpresa!

Quedei-me entre obras de arte e de nobreza!
Passei por muita vila donairosa,
Mas não achei nenhuma mais formosa
Que Góis, vestida qual uma princesa!

Encantava-a a verdura dos caminhos,
A Igreja memorável, o Penedo
E a Ponte Manuelina sobre o Ceira!

As águas em cascata nos moínhos
E o sol no Rabadão, de manhã cedo,
Faziam do meu sonho uma cegueira!
 

Clarisse Barata Sanches

 

publicado por penedo às 21:04

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Quarta-feira, 12 de Novembro de 2008

80º Aniversáriodo Regionalismo Goiense -Festa da Freguesia de Alvares

15 de Novembro de 2008

Casa do Concelho de Góis
                                Rua de Santa Marta, nº 47, r/c dto.
                                                                     1150 – 293 LISBOA


Programa

15:00 Sessão de Abertura
          Abertura da Exposição

16:00 Apresentação do "Hino da Roda Cimeira"

16:30 Entrevista sobre o Regionalismo a Libanio Simões de Oliveira e João Baeta  com António Lopes Machado

17:00 Cantares da Roda

17:30 Poesia de Alvares, de Adriano Pacheco com introdução do Eng. João Coelho

18:00 Concertinas da Freguesia de Alvares

19:30 Concurso de gastronomia "Os Sabores da Roda Cimeira"

20:00 Lanche Regional

21:30 Baile Regional


Organização
                         Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira

 

                           Casa do Concelho de Góis – Conselho Regional
 



Apoio
                 Casa do Concelho de Góis

 

                    Junta de Freguesia de Alvares

publicado por penedo às 09:43

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Terça-feira, 11 de Novembro de 2008

S. Martinho

                                    

                                                   Neste dia de S. Martinho

 

                                                   o autor do blog Penedos de Gois ,

 

                                                   saúda  e agradece  a visita de todos os visitantes ,

 

                                                   e em especial para os que estão além fronteiras,

 

                                                   na Europa ,no Brasil ,em Africa, etc...

 

                                 

                                                                                                      o Penedo

 

 

nota:

                             faça o seus comentários.deixe sugestões                       

publicado por penedo às 10:13

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VII -SETE DIAS À TOA NA SERRA DA LOUSÃ

      Por Ernesto Ladeira
(Continuação do número anterior)

E chegou, finalmente, da fazenda, a tão ansiada parente, a patroa do Ti Jõao Barata. Como todas as mães que regressam das lides da terra, lá vinha ela, pausadamente, com a cesta à cabeça, com a indispensável rodilha, carregada de verduras e de sacho na mão. (Estas varinas serranas de canastra à cabeça, carregadas de "peixe verde", pescado aqui neste mar de sargaços, onde as profundidades são negativas!). E fizeram-se as apresentações. E vieram os espantos e os embaraços. Mas tudo imediatamente se recompôs. E houve bacalhau corrente, com batatas, hortaliça e cebolas e vinho alvaraço das vides da latada. E queijo de Castelo Branco, delicioso, sobre o prato de vidro facetado, coberto com a esmerada toalhinha de renda. E talassas e cascoréis polvilhados com açúcar amarelo. Em casa de um ganadeiro da serra, há sempre um pouco de tudo o que é bom, sobejando sempre a amizade e a espontaneidade. Gente santa, gente boa. Esta tanta reconfortante e franca assistência, em momento de fome canina, ficou para sempre registada na nossa lembrança.

Nunca mais esquecemos aquela recolhida varanda sobre o pátio alcatifado de mato maninho cheiroso, protegido pelas densas ramadas de grossas videiras mansas. Local de confluência de gados em trânsito, a caminho das feiras dos 23 e24; alfândega de "vivos", reduto de um senhor honrado e muito estimado, negociante sem parança.

Estávamos agora no bom caminho. Finalmente tínhamos chegado às terras de leite e de mel à custa de gente esforçada e boa. Terras onde todos eram parentes, primos e primas.

O nosso ânimo era agora outro. Em breve alcançávamos a Roda Fundeira e, logo a seguir, o nosso surpreendente contacto com a Ribeira de Amioso. Coisa linda de se ver ! Um doce e permanente murmúrio de águas claras e brandas, eterno canto de Orfeu. Em cada simulacro de açude ou de simples represa, uma recatada banheira natural. Beber água de joelhos naquela "fonte horizontal", sempre a correr, foi novidade para uns, mas um prazer supremo para todos. Saudosa Ribeira, ainda com o "design" original, a saltitar e a cantarolar, aos ziguezagues, como crianças a brincar aos jogos de água. As pecaminosas "mais valias" da civilização não deram ainda entrada ali. A Natureza fora apenas ajeitada e enfeitada pela mão natural do homem- telúrico, com o mesmo jeitinho com que agasalha o filho, no seu berço tosco de pinho, ou faz o presépio com o musgo e as carcódeas que apanha na Floresta.

Coisas belas da Natureza (mesmo belas, quando o não são) só para serem vistas e vividas apenas de passagem, infelizmente! Mais renúncias, traumas, recalcamentos, inibições, frustrações. Mais e mais tijolos-burros armazenados em nós, para forçar a construção de uma "consciência de adulto" standard, tudo em nome de preconceitos, estereótipos, espartilhos, coletes de forças, enfim, os chamados " bons princípios", impostos e aceites cegamente.

Ribeira de Amioso, bem que gostaríamos de seguir o teu leito até Alvares, com alguma demora em Amiosinho do Senhor, onde o teu corpo serpenteado é por demais sensual. Estamos em marcha forçada, não podemos sonhar mais!

Renunciámos ao paraíso e resolvemos guinar à esquerda e escalar um inclinado cerro que nos conduzia, de novo, ao sempre tão desejado pinhal velho. Olhando para trás, a mata era densa e de pasmar, de um e do outro lado da Ribeira. A Árvore era o "ser" predominante, e absorvente, naquelas paragens.

Alguém, sonhando, sugeriu: E se fossem as Árvores a governar o mundo, uma vez que o homem pertence já a uma "floresta" gravemente doente! Era capaz de ser giro! Uma nova sociedade. Uma civilização florestal. Assim como a dos índios; só que os ditos "civilizados", deram-lhe e continuam a dar-lhe cabo do canastro. Talvez fosse uma maneira de praticarmos a ecologia a sério. Talvez a forma de vivermos mais no campo e menos nas cidades-montureiras, onde tudo se consome e pouco se sonha. Talvez a pureza original, de regresso.

Os pais rezingões o que terão dito já de nós ? O pai do Silvério, lá na Estrada Nova, já deve estar rouco de tanto gritar por ele de cima do terraço. Estes filhos vagabundos que só pensam na boa vida!. Está mais que visto. Não haverá mais paraíso na terra, por causa, e só por causa, dos homens.

Adeus vale da serenidade. Vale onde tudo é mais puro, mais Natureza, incluindo o próprio homem "indígena". Vale do silêncio original feito de todos os silêncios. Apenas o som primitivo e nostálgico das taramelas, o sachar molhado das regadeiras e o estridente assobiar prateado dos melros, denunciam, harmoniosamente, o teu sagrado recolhimento.

E lá fomos andando, pinhal adentro. Pinhal, muito pinhal, esplendoroso. Resineiros engraçados, corre que corre, na faina da recolha da resina que escorregava abundantemente das sangrias para os púcaros. Como habitualmente o berro guerreiro do gaio furtivo (nunca ninguém o viu por perto) e o gemido da rola ternurenta. Ambiências místicas, calmantes. A paz integral, ao longo das intermináveis e solitárias colunatas vegetais.

Tínhamos para aí duas aguilhadas e picos de Sol e, pelos nossos cálculos, íamos no caminho certo em direcção ao alcatrão (EN2). A partir daqui, rapidamente, alcançaríamos Chã de Álvares, terra de antepassados (Lopes Ladeira) recebeu-nos calorosamente. Tanto na Chã, como em Álvares, já se sabia da nossa façanha. O trabalho de sapa do nosso amigo caixeiro-viajante de província (avistado na Cerdeira ) começava, agora, a dar os seus frutos. O maralhal de Álvares vibrou com a notícia de que vinha aí a caminho uma trupe de "ilustres maltrapilhas" românticos da Ribeira de Pêra, jovens e irreverentes estudantes, em Coimbra e Lisboa.

Desde logo ficou combinado que jantaríamos na Chã, em casa do parente Antão que, muito amavelmente, logo nos disponibilizou aposentos para as noites em que permanecêssemos na área. O jantar foi uma festa e nada nos faltou. Só que, durante muito tempo, não nos saía da cabeça o intenso olhar censório do enorme pargo, de olhos desmesuradamente esbugalhados, tostadinho sobre um enorme tabuleiro, e enfeitado com guarnição de batatinhas e cebolinhas alouradas. Um remoto "antepassado" nosso, em tão deprimente condição! Que coisa tão bizarra nestas paragens das profundidades verdes negativas! Ou talvez não! Do mar veio a Vida para a Terra, diz quem sabe. E do mar continuam a chegar fortes ventos e chuvas que agitam e avolumam este verde extenso e denso, que é uma outra forma de mar tumultuoso. Não adianta fronteiras duras, onde tudo é feito de misturas e permutas. Na "Ode Marítima", Fernando Pessoa escreveu:

"Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!" Nós, tomaríamos a liberdade de fazer a seguinte adaptação:

"Ah, toda a serra é uma saudade de verde!". Talento precisa-se para escrever a "Ode Verde", em mar de sargaços interior; lenhoso, perfumado, silente, ondulante, embalador.

(continua no próximo número)

 

do  jornal O Castanheirense

 

publicado por penedo às 10:02

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Para descontrair

 

 

Para descontrair  neste dia de S. Martinho

 

clik aqui

http://www.jacquielawson.com/preview.asp?cont=1&hdn=5&pv=3146946

 

Carregue no pincel quando aparecer o quadro

 

-Tirar a castanha do fogo com a mão do gato.

 

- No dia de S. Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.
 

 

publicado por penedo às 09:52

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Sexta-feira, 7 de Novembro de 2008

À Volta dos Penedos---Góis - Feira da Castanha e do Mel

 
 
foto hi5 Poboraes
Vista  dos Povorais e seus soitos de castanheiros
 
Como já vai acontecendo há alguns anos, realizou-se este fim-de-semana a Feira da Castanha e do Mel na Vila de Góis. Além dos feirantes habituais as vendedoras de castanhas estavam presentes e os visitantes aproveitavam para encher os sacos e preparar reservas para o S. Martinho que não está longe.
Os preços rondavam os 3 euros o quilo, um preço bem alto se considerarmos que o produto já foi a base da alimentação desta região. Mas os soutos escasseiam, explicou ao Jornal de Arganil Fernando Barata Henriques, de Povorais, e o único produtor local presente na Feira que vendia a castanha ao simpático preço de 1,50 euros. Um apaixonado da vida do campo, com a sua mulher Maria Isabel Henriques, trata dos castanheiros que herdou da família com toda a atenção que merecem. Já reformado do trabalho do bem conhecido Café Barata, dedica parte do seu tempo aos castanheiros e às nogueiras. "Em a gente acabando, isto acaba", declarou Maria Isabel. É difícil descer à Ribeira da Pena e, porque tem uma pequena camionete, ainda é o marido, com alguns homens, que faz o transporte das castanhas de outros proprietários que não têm meios para o fazer. Mas as queixas vão mais longe. Segundo Fernando Henriques já não são só os javalis que rondam os castanheiros agora são também os veados lançados na Serra da Lousã que se regalam com o fruto. Apesar de tudo, este simpático casal só desiste quando não puder mesmo assegura o serviço e a razão está no prazer que lhe dá cuidar do que foi dos seus antepassados, prazer esse que lhes está estampado nos rostos e no vibrar da voz.
Uma tenda instalada na Feira estava reservada a produtores de castanha e mel que vendiam também produtos derivados, como licores, polén, e objectos decorativos feitos de cera. Por seu turno, a LousãMel aplicava-se na análise de amostras de mel, registando características dos produtos que se apresentaram a concurso.
Como não há festa popular sem música tradicional, subiu ao palco, na parte da manhã, o Grupo Folclórico "As Sachadeiras", da Casa do Povo de Vila Nova do Ceira. Enquanto muito povo os via e ouvia, do outro lado decorria o campeonato do Jogo da Malha.

                  Concurso doçaria

ALUNOS DA ESCOLA BÁSICA GANHAM 1.º PRÉMIO

Concurso de doces à base de mel. Fizeram parte do júri, em representação da Associação de Apicultores de Góis, sr.ª Júlia Fernandes, da Lousãmel, a eng.ª Ana Paula Sancesa, da Câmara Municipal de Góis, a vereadora sr.ª D. Helena Moniz.
A classificação final foi a seguinte: 1.º lugar, finalistas da Escola EB 2,3 de Góis; em 2.º lugar, Ramiro Simões; em 3.º lugar sr.ª D. Maria Olívia Almeida.


                             Concurso de Mel

JOSÉ CARVALHO GANHA O 1.º PRÉMIO
 

Num ano em que foi patente a escassez de mel na área da serra da Lousã é extremamente importante para motivação dos produtores a realização deste concurso, o primeiro no contexto deste certame e que foi promovido pela Câmara Municipal em parceria com a Lousãmel. Participaram 8 produtores e o resultado foi o seguinte: 1.º lugar, José Carvalho; 2.º lugar, Aníbal Tomaz Carvalho; 3.º lugar, Jorge Veiga Antunes.

O júri era composto por: Presidente da Lousãmel, sr. António Carvalho, Eng.ª Ana Paula, técnica desta instituição e Luís Ferreira, da Câmara Municipal de Góis.
Os concursos enquadraram-se no programa de animação da Festa de Feira e do Mel, que contou com muita animação e com a presença do Presidente da Câmara de Góis, José Girão Vitorino, já restabelecido da sua saúde e em dia de aniversário natalício.
Não queremos deixar de assinalar o trabalho, destreza e simpatia da funcionária da Câmara Municipal, Eng.ª Helena Pedruco que, pertencendo à organização foi incansável no sentido de resolver todos os problemas que foram surgindo durante todo o dia.
 
 
 
                                                                           in Jornal de Arganil, de 6/11/2008

 

publicado por penedo às 16:25

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Terça-feira, 4 de Novembro de 2008

À Volta dos Penedos---- Feira dos Santos em Góis

 

 


A Vila de Góis acolheu, mais uma vez a Feira dos Santos, no dia 1 de Novembro de 2008.
A iniciativa decorreu entre as 7h e as 18h, no Parque de Lazer do Baião.
Este certame visou promover os produtos locais e regionais, com destaque para o Mel com DOP (Denominação de Origem Protegida) - Mel da Serra da Lousã e os frutos secos.

À semelhança dos anos anteriores, a organização promoveu o concurso de Doces/Bolos (confeccionados à base de mel, castanha e nozes), e este ano pela primeira vez tivemos um concurso do Mel.

Esta Feira contou com a animação de 2 Ranchos Folclóricos, com o V Torneio da Malha Inter-colectividades, com o Torneio do Tiro ao Alvo, e para finalizar o tradicional magusto.

A Feira dos Santos, para além de ser um ponto de encontro do comércio tradicional, é sobretudo um local onde familiares e amigos se juntam.
in www.cm-gois.pt
tags:
publicado por penedo às 19:28

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VI -SETE DIAS À TOA NA SERRA DA LOUSÃ

      Por Ernesto Ladeira
(Continuação do número anterior)

E eis-nos, finalmente, no alto-viso. Portela do Vento. O outro lado da nossa Serra – Mãe. A nossos pés, muitos milhões de séculos de geo-história se contemplam. A deslumbrante "amazónia lusitana"; denso verde escuro ondulante a perder de vista. Incontáveis linhas d’ água a engrossar o "Caudaloso Zêzere". Intermináveis povoados, afundados naquele imenso mar de sargaços. Com grande surpresa nossa, demos pelo auto-giro de Góis a cirandar por ali. Naquele momento, ajudava a carregar uma carrada de mato, enfeitada, nas quatro quinas, com paveias de carqueja e queiró; uma junta de bois, pertença de um carreiro das Cabeçadas.

O pilotaço, para nos compensar do falhanço de Góis, acedeu a uma passeata aérea sobre a Zona do Pinhal, munidos de uma filmadora-torga, a pedal, com lentes montadas em canas de bambu. Pilotaço louco, curvando à direita e à esquerda, para onde nos levas tu? Cirandámos, sem parar, da vertical da Portela do Vento até quase á vertical do mar, como quem lavra o deslumbramento. "Takes" aéreas d’ antanho nos pinhais que foram do Zêzere. Filme velho, de cinquenta anos, que ficaria, para sempre, por montar.

Voámos, sem cansaços, sobre aquele mar verde de sargaços, das negativas profundidades abissais, emaranhado de micro-ecossistemas em série, por demais. Milhafres, as gaivotas negras destes mares, pairavam, lá nas alturas, em voos suaves, de suprema liberdade. Estávamos, agora, à vertical de Pedrógão; Figueiró à vista! Não vimos Camões, em êxtase, no pomar do convento à foz da Ribeira de Pera – "Oh pomar venturoso, /Onde co’a natureza / A subtil arte te demanda incerta; ". Vimos, antes, rebanhos pastando e juntas de bois a carregar mato maninho nos montes ledos. E a descarregar barris de resina nos estaleiros. Vimos gente, muita gente, formigando nas hortas, alqueives e lameiros. Meninos, no pinhal, ao fagulho e à lenha – O gás natural, limpo, da montanha.

O Pilotaço, numa manobra brusca, inesperada, interrompeu-nos as "takes" e o sonho e reposicionou-nos, de novo, na Portela do Vento, nosso ponto de partida. Na dobra do meio século, tempo de escravidão e brutal asfixia, voar e sonhar sobre a " amazónia lusitana", era a grande evasão, a grande terapia.

As minas de ouro da Roda eram, agora, o nosso destino. Deviam ficar por ali perto, mas nenhum de nós, como era óbvio, estava seguro do rumo certo. Um senhor, que vinha lá dos lados do Vimieiro, indicou-nos o caminho certo a seguir, mas foi logo avisando que aquilo estava fechado, já há muito tempo. Estava lá apenas um guarda, por conta da concessionária (CUF) da exploração. Onde agora estavam a meter pessoal, era lá para baixo para a Bouçã, onde andavam a construir uma grande barragem, acrescentou a bondosa da criatura. Trabalho não, obrigado! Pelo menos por agora. Adeusinho, passe bem, murmurámos nós.

Minas da Roda, bocarras feias, abertas na face da pureza. Abertas a pulso, sangue, suor e lágrimas; onde não faltou o drama da silicose. Fechou; já não estava a dar, disse o guarda.

E uma cotovia, no alto daquela montanha leda, subia, subia, sem parança, num estranho voo verticalíssimo, chilreado e tamborilado, cada vez mais sumido, mais sumido, até desaparecer e apagar-se, diluindo-se na intensa claridade das alturas. Diziam os meninos da nossa Terra que as cotovias, durante esta enigmática ascensão, vão dizendo, no seu cantar: " Hei-de ir, hei-de ir, ao céu e tornar a vir; Hei-de ir, hei-de ir...". Júbilo e gratidão por os filhos terem saído vivos da casca ? Simples exercício lúdico? Vigiar predadores? Manifestação de namoro? Apalpar o pulso ao tempo? Suicídio? E, a propósito, onde ficarão os invisíveis cemitérios dos pássaros? Ai esta estranha e enigmática Natureza, de que nós não passamos de maus e distraídos aprendizes!.

E fomos descendo, lomba a baixo, agora, e finalmente, em direcção à tão desejada Roda Cimeira. Era já tarde dentro e a fome, mais que o cansaço, apertava a valer. Como um bando de pistoleiros, desalentados e esfaimados, que tenta a todo o custo sobreviver, demos entrada na povoação. Ninguém nas ruas! Tudo parado, pasmado, silencioso; apenas uma galinha solitária, junto de um charco, dava bicadas ritmadas numa maçã rebeldia, já muito emporcalhada. O que não impediu que um de nós, porventura o mais agastado e atrevido, a tivesse recuperado e roído. Salvaguardadas as diferenças, eram cenas de um verdadeiro "western" americano, naquelas sequências em que os vilões, em magote e a meio trote, entram, cautelosamente, na cidade fantasma, aparentemente deserta.

Muito perto da galinha codilhada, um tubo de ferro, de duas polegadas, debitava água fresca e cristalina para o bebedoiro tosco dos animais. Uma boa oportunidade para nos refrescarmos, suster a fome, e também para fazer um pouco de higiene, muito importante para aguentar o estado de espirito dos "guerrilheiros" do sonho e da pureza.

Estávamos nós nas mais que imperativas abluções, no tanque das bestas, quando, finalmente, apareceu alguém para nos ajudar. Diga-nos, minha senhora, onde mora aqui o senhor João Barata Lima, do Vimieiro, que casou aqui na Roda? – É ali mesmo em baixo, mê senhor. É a casa do pátio; mas olhe que não está lá ninguém. O senhor João saiu pr’ó negócio, na cavaleta, há dois ou três dias e, a patroa anda pr’á fazenda, a regar, mas não deve tardar. Calma ! Há quem esteja um ror de dias sem comer. Vamos esperar. O parente João, ligado, por laços familiares, aos Ladeiras de Mega, era um negociante de gado, sem parança. Montado na sua cavalgadura ajaezada a rigor, ele aí ia por montes e vales, por feiras e mercados e também por lugarejos e casais, onde tinha rezes a meias. O Ti Jõao Barata da Roda, de excelente trato e sempre bem humorado, fazia correr o riso e o negócio entre os amigos e conhecidos. Da velha escola dos negociantes de Mega ( A Terra das Casas Brancas ), nunca lhe faltava, ao peito, traçada sobre o impecável colete e camisa branca, a bela corrente de prata ( quando não de ouro ), o valioso relógio de bolso e, claro, a velha bengala de marmeleiro, cor de mel, seu bastão multiusos e insígnia da sua condição.

Mas o Ti Jõao Barata da Roda tinha ainda outra faceta, e não menos importante. Ele era um exímio guitarrista, cantador e mandador: grande animador de bailaricos serranos (ficaram célebres os de Mega e do Camelo), onde o fado corrido e o fado mandado, até às tantas, deitavam sobrados abaixo. Enfim, o Ti João da Roda uma força da Natureza, nela vivendo e sonhando, jogral da montanha, polvilhado de algum marialvismo inocente, por quem algumas donzelas suspiravam.

 

 

(continua no próximo número)

 

publicado por penedo às 17:36

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