in Terras do Esporão
Aqui bem perto do azul do céu
onde as esperanças persistem
e os olhos ficam molhados
Tudo é tão longe e abragente
Que nem o olhar longínquo
Altera o semblante sorridente
Aqui onde o horizonte se perde
de vista
E os altos e baixos da vida
se encaixam
Reflectem a harmonia
dos contrários
A natureza acrescenta beleza
Matizando os mais belos cenários
Aqui o olhar é o mais longo
e hesitante
O espaço vagueia entre próximo
e distante
A luz lembra, o que se esquece
Todo o olhar dístraído....
tem a lonjura que merece
"Silvos do Vento "de Adriano Pacheco
(Este espaço pretende divulgar os locais que se alcança á vista dos Penedos)
Realizou-se no domingo o arraial de S.António da Neve
aqui mesmo em frente de mim (Penedos de Gois)
e gostei, já que a algum tempo não havia animação por estas serras,
aqui no alto sintome só ,( só tenho a companhia dos meus irmãos ;
Penedo da Abelha, Penedo do Pico, Penedo do Meio Dia ,Penedo das Portas do Sol )
lá de tempos a tempos é que tenho a visita de alguns "turistas" , veados, javalis,
coelhos, águias etc...
"Relato de um dia animado"
No antigo Cabeço do Pereiro, ergue-se a capela em honra se S. António, mandada construir por Julião Pereira de Castro, neveiro–mor da casa real, passando assim o local a chamar-se Santo António da Neve. Durante anos, esta capela esteve nas mãos de particulares, mas em 1954 foi adquirida pela Câmara Municipal de Castanheira de Pera e ficou na posse da Junta de Freguesia do Coentral.
Foi num dos locais mais emblemáticos da Serra da Lousã, que teve lugar no passado dia 26 de Julho, o VII Encontro de Povos da Serra da Lousã.
O topo do Santo António da Neve, foi pequeno para receber toda a população referente ao ponto de confluência dos três concelhos: Castanheira de Pera, Lousã e Góis.
Este local emblemático da região, culminava o ponto mais alto dos concelhos que o circundam, onde ali e ainda há poucas décadas, afluía uma multidão de populares para honrar o santo casamenteiro que ali tem a sua capela.
O VII Encontro de Povos da Serra da Lousã foi celebrado, comendo e trocando farnéis, tocando concertina ou ouvindo tocar, concertinas e violas.
Enquanto uns procuravam uma sombra para descansar, outros queriam mesmo era descansar, à torreira do sol.
E porque a serra não divide, une todos os Povos da Serra da Lousã, cuja a coordenação ficou a cargo da Caperarte de Castanheira de Pera e dos jornais A Comarca de Figueiró dos Vinhos, o Trevim da Lousã e o Mirante de Miranda do Corvo, e como tal, este VII Encontro de Povos Serranos decorreu sempre de uma forma espontânea, com apenas uma única regra: não era permitido neste encontro aparelhagens sonoras ou até mesmo perturbações ambientais.
Nesse convívio que se estendeu por todo dia, não faltaram acordeões nem cantorias antigas actuadas por alguns grupos folclóricos que marcaram presença, nomeadamente o Rancho Folclórico Estrelas da Ponte do Areal – Lousã, o Rancho Folclórico Etnográfico de Vilarinho – Lousã, o Rancho Folclórico Neveiros do Coentral – Castanheira de Pera e o Grupo de trabalhadores rurais transmontanos de Montalegre, com uma exibição de “jogo do pau”, com executantes entre os 11 e os 77 anos.
Estes foram os ranchos que actuaram com a suas músicas tradicionais da serra e que foram absorvidas pelos que subiram à Serra do Sto. António das Neves, fazendo lembrar àqueles que estão longe, que a tradição ainda se mantêm por estas paragens.
Nestes encontros, a festa dura de sol a sol e para quem se esqueceu da merenda, podia contar com a simpatia e a amabilidade dos mais prevenidos, mas o mais aconselhável era que todos os que subissem a serra, fossem prevenidos com o seu farnel.
Além da capela em honra de Sto. António, este local é também conhecido por um dos pontos mais elevados da Serra da Lousã, constituindo-se como um dos imensos planaltos, por ter locais privilegiados para desfrutar da imensidão das paisagens e inspirar um ar de qualidade invejável.
Junto à capela de Sto. António situam-se os Poços do antigo Real Neveiro, mais conhecidos por Poços da Neve, local onde o gelo era conservado para depois ser transportado por roceiros carros de bois até Constância e em barco, ao longo do Rio Tejo, seguiam até Lisboa num trajecto de pesares e dificuldades.
O gelo viria depois a ser utilizado na copa e adega do Rei e em cafés reputados da capital. Dos sete poços construídos originalmente em pedra de xisto, típica da região, apenas resistiram três, herança presente de uma época árdua para todos os povos serranos que viveram naquela altura. Entretanto são considerados imóveis de interesse público devido à sua preciosidade.
Segundo um estudo elaborado pelo Dr. Herlander Machado, ilustre coentralense e fundador do Rancho Folclórico “Os Neveiros do Coentral”, os poços da neve são seguramente mais antigos que a capela, só havendo notícia devidamente documentada a partir de 1757 em despacho do Rei D. José, também assinado pelo Marquês de Pombal.
Utilizando escadas de madeira, os trabalhadores desciam ao fundo dos poços, que segundo se supõe têm uma profundidade de cerca de 10 metros, e à medida que ia sendo despejada a neve, iam apertando a neve com pesados troncos de madeira.
Ali ficava a neve até ao Verão, altura essa em que a neve era transportada em carros de bois, e no rio abaixo era levada em barcos pelo Rio Tejo, até Lisboa para refrescar o Paço Real, num trajecto que reflectia a vida difícil dos povos serranos em épocas muito duras.
Arquivo: Edição de 07-08-2003
A LUZ DOS PENEDOS
Lá no alto uma luz se liberta
Como se fosse chamamento
Um apelo se desencadeia
No socalco que medeia
Entre vontade e pensamento
Uma rocha se ergue na frente
Outra e outra na dianteira
Tudo se ergue em segredo
E quem sabe se a primeira
Não é o verdadeiro penedo?
São as alturas que apelam
À denúncia das fraquezas
Algo nos vem da origem
Temos sede de certezas
Na desordem da vertigem
Quanta vontade se levanta
No penedo que nos espanta!...
UMBRAIS DOS PENEDOS de Adriano Pacheco
OS PENEDOS
Nos penedos que nos elevam
olhar aos céus
Há um deus que nos
acolhe
Num recanto luminoso
Onde a virtude
nos toca
Há um povo virtuoso
O silêncio que nos invade
Não vem do céu nem
da terra
Vem da paz que nos enleia
E no monte que semeia
O vento agreste vem
da serra
São pedras, filhas das rochas
Penedos que todos acolhe
Nesta profunda virtude
Enquanto o olhar
tudo recolhe
Nesta imensa quietude
UMBRAIS DOS PENEDOS de Adriano Pacheco
O pico do Trevim
Na serra da Lousã, a 1200 metros de altitude e a menos de uma hora de Coimbra, em automóvel, existe um dos mais belos pontos de vista do país.
Na estrada da Lousã para a Castanheira, logo adiante da Catraia, numa altitude já superior a mil metros bifurca para a esquerda uma bem cuidada estrada de turismo, que a Sociedade de Melhoramentos Lousã-Castanheira acaba de concluir, dando acesso ao ponto mais elevado da Serra — o Pico do Trevim, ou melhor, o Altar do Trevim, como lhe chamam escritores de outros tempos e como ainda hoje lhe chama o povo.
A estrada, larga e bem lançada, depois de subir um pouco nos primeiros duzentos metros, segue quase sem patamar, junto à crista da Serra, oferecendo-nos para poente e norte os panoramas mais variados e deslumbrantes.
A fita branca dos areais da costa estende-se desde as alturas de S. Pedro de Muel até para cima de Aveiro, interrompida apenas pela serra da Boa Viagem, ao lado da Figueira; e, cingida a ela, a faixa verde do oceano a perder-se no horizonte.
Para norte, o Bussaco, o Caramulo e o Montemuro são o pano de fundo do amplo panorama onde alvejam dezenas de vilas e aldeias e Coimbra, a dois passos de nós, mesmo por detrás do Senhor da Serra de Semide, é a Princesa deste Centro de Portugal, cujo manto de níveas brancuras tem uma longa cauda de verde-esmeralda, que são os campos do Mondego, arrastando-se em curvas deleitosas até para baixo de Montemor.
Andados os primeiros dois quilómetros desta linda estrada de turismo, e depois de termos passado sobre o Candal, que, ao fundo de um arrepiante desfiladeiro, à esquerda, a mais de 400 metros a pique, com a sua escola nova, as suas casas pitorescas e o seus verdes milharais, é um dos mais enternecedores quadros de paisagem que nos olhos têm visto, atravessamos o Relveiro da Selada dos Poços, onde o pavimento da estrada é a própria erva virgem e macia, e começamos a subida do Trevim.
Coleamos pela esquerda o primeiro contraforte, numa curva larga e de fácil subida, como que feita para nos mostrar melhor os pendores da serrania sobre o Vale do Arouce, e chegamos à Fonte do Cavalete, cuja água fresquíssima e cristalina, é o mais delicioso refresco em dias de verão.
A fonte brota uns vinte metros abaixo da estrada, por entre fetos e relvados, onde nos dias de Santo António da Neve os romeiros improvisam, à passagem, bailes e merendas, porque o recanto, fresco e defendido dos ventos, convida a descansar, e o ar da serra, fino e excitante, faz vontade de comer e brincar…
Damos agora, pelo sul, uma volta apertada, em patamar, por entre rochedos ásperos, onde propositadamente se levou a estrada para conseguir um melhor miradouro sobre a linda povoação do Coentral e sobre toda a Ribeira de Pêra, matizada de povoações, e começa a subida final para o Altar do Trevim (agora é que nos parece um altar), a oito por cento, que não é rampa que os automóveis não trepem com facilidade.
A poente, uma curva que é um dos mais deslumbrantes pontos de vista de todo0 o trajecto, e logo rodeamos pelo nascente o cimo do monte, entrando já pelo lado do sul no planalto em que assenta o marco geodésico — o Castelo, como o povo o designa, com a sua ingénua tendência para colorir e romantizar as coisas.
Chegámos pois ao Trevim! São 1.204 metros de altitude!
E agora é em volta de nós metade de Portugal a desdobrar-se em maravilhas de toda a ordem. Por todos os lados o monte cai em declives rápidos, deixando-nos admirar, em baixo, perto da vertical, o campo da Lousã, a menos de 200 metros de altitude, o de Miranda, o vale do Ceira, Serpins, Ponte do Sotam, campos de Góis e da Ribeira de Pêra, etc., e pelas encostas, dependuradas na Serra, aldeias pitorescas: Silveira, Catarredor, Talasnal, a Aigra e os Pobrais.
Para sudoeste, a poucas centenas de metros, numa eminência de altitude aproximada a do Trevim, separada deste pelo rebaixo da "Selada de Pêra" o Santo António da Neve, capela de boa arquitectura em cuja frontaria se vê uma placa de mármore, tendo gravado o seguinte:
"Esta capela do gloriosos Santo António de Lisboa a mandou fazer Julio Pereira de Castro, reposteiro do N. R.º da Camara de Sua Magestade e neveiro da sua real casa, em terra sua no ano de 1786".
Segundo se conclui de um estudo de Matos Sequeira, publicado na Revista "Feira da Ladra" este fidalgo Júlio Pereira de Castro foi um dos últimos neveiros que arremataram perante a Câmara de Lisboa o exclusivo do fornecimento de neve para a capital, visto que era desconhecido o fabrico do gelo. A primeira destas arrematações teve lugar por ocasião da visita a Lisboa de Filipe I, que em Madrid esteva habituado a nevar as suas bebidas e comidas.
Ainda hoje se vêem no relvado que circunda a capela de Santo António vários poços de neve, três deles em regular estado de conservação e os outros em ruínas. São sólidas construções cilíndricas em pedra e cal de cobertura em abóbada, medindo 7 a 10 metros de diâmetro e uns 12 metros de altura interior, sendo metade dela abaixo do nível do solo.
Nas espessas paredes, de mais de metro, abre-se uma única porta, por onde se metia a neve apanhada sobre a relva, comprimindo-se e isolando-se do exterior com portas duplas e cortiça ou serradura.
Dali se transportava para Lisboa, em maiores ou menores quantidades conforme o tempo exigia, sendo consumida na corte a maior parte.
Ainda hoje vivem na Lousã pessoas que se empregaram nesse transporte, que o Sr. Eugénio Amaro, lavrador abastado, hoje residente em Semide, por mais de uma vez arrematou.
Mas deixemos estas velharias e vamos lá olhar ao longe a amplidão dos panoramas sem fim.
Primeiro, entre o norte e nascente, a majestade da Serra da Estrela dominando tudo. A ranhura do vale de Loriga, profunda, está na nossa frente, e um pouco à esquerda vê-se nitidamente. S. Romão, e mais à esquerda, e um pouco mais longe, na aresta em declive, a linda vila de Seia.
Para nascente, avoluma a Gardunha, prolongada para sudoeste na Serra do Muradal, já mais próxima de nós que veda à nossa vista, como um muro, a planície de Castelo Branco. Paralelamente, mais próxima ainda, a Serra de Alvelos (Oleiros e Sertã), e entre elas e o Trevim, o vale do Zêzere, aqui e além de gargantas alcantiladas como a do Cabril, a dois passos.
Vê-se até alvejar num cume, ao lado a capela da Senhora da Confiança, em Pedrogão Pequeno, na margem esquerda, e pouco mais abaixo, na direita, vislumbra-se ainda Pedrogão Grande — "terra de sombras e ares mui deigados e limpos", como já em meados do século XVI a classificava Miguel Leitão de Andrada na Miscelanea. Ao longe, para sul do Muradal, o Penedo Gordo, sobre as Portas do Rodão, e mais para a direita o cone truncado da Serra de Mação. Por entre esta e o Penedo Gordo, vê-se ainda ao longe a serra de S. Mamede, junto de Portalegre, que os romanos denominavam Herminius Minor.
Para sudoeste recorta-se bem definida a Serra de Aire, à direita da planície baixa do Entroncamento e Torres Novas, vendo-se na mesma direcção, mas num plano mais próximo, a Serra de Alvaiázere. Da Serra de Aire para o norte, alonga-se a serra de Minde, de menor altitude, por onde fica Fátima, e por detrás desta, alteia-se a dos Candeeiros. Mais próximas de nós as serras da Sicó e das Degracias, ao lado respectivamente de Pombal e Soure.
Toda a extensa faixa do areal da costa, desde as alturas da Marinha Grande até Aveiro, brilha ao sol, ladeada por duas faixas uma verde esmeralda, que é o mar, outra mais escura, que são os pinhais de Leiria, da Leirosa, de Quiaios, da Tocha e de Mira.
O Buçaco, a Gralheira, o Caramulo, o Montemuro, e a Lapa definem, pelo norte a linha do horizonte. Abrangido por ela, um sem número de vilas, aldeias, ermidas, que põem notas de brancura no verde dos pinhais e no cinzento das encostas: Montemor, Penela, Miranda, Lamas, Podentes, Semide, Cantanhede, Penacova, S. Pedro de Alva, S. Comba, Campo de Besteiros, Tondela, Nelas, Mangualde, Oliveira do Hospital, Lagares, Ervedal, Tábua, Mouronho, Barril, Lourosa, Galizes, Valezim, Monte Alto (Arganil), Bordeiro, Várzea de Gois, Serpins, Foz de Arouce, etc., etc.
E agora vamos a descer. Vai terminar o passeio. O sol da tarde faz realçar nos vales a beleza de certos contornos de linhas esculturais. Há sombras pelas encostas que são esboços a craion de atitudes apolíneas, de curvas doces, de formas feminis.
O mar faísca ao longe, fazendo lembrar bronze derretido, pronto a correr para os moldes de uma fundição de gigantes, e, junto de nós, rebanhos enormes vão seguindo já a caminho dos casais. O Santo António da Neve, envolvido pelo sol doce do entardecer, tem um certo ar de saudade que enternece...
Lá fica na sua solidão, guardado apenas pelo Marco do Trevim, vigilante, seco, aprumado — insensível às tempestades e vendavais, ao frio e à neve — sentinela firme, que faz lembrar aquele soldado de Pompeia cumprindo até ao fim o seu dever, morrendo afogado na lava ardente, de pé, no seu posto — porque ninguém rendeu.
"Alma Nova", Lousã, Ano 11, nº 321, 21 Outubro 1932
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